quarta-feira, novembro 19, 2003

Na mesma linha de pensamento: competitividade

Um problema muitas vezes não se pode eliminar e como tal eterniza-se.

Eterniza-se, enquista-se, torna-se num tumor, degenera e causa um mal-estar desconforme. Entre a bigorna e o martelo temos o ferro.
Malha-se, muitas vezes a frio.

Como se sabe, o capital humano representa a maior riqueza de qualquer empresa.
Só o homem pode por em causa, questionar e consequentemente mudar e melhorar.
São assim como que o vinho do Porto: “quanto mais velhinho melhor”.
Normalmente os aromas refinam-se dando origem não só às boas qualidades mas também aos piores defeitos....pois!

Estamos a falar da problemática da mudança.

Tudo o que implica mudança mete medo.

O medo de perder regalias, poder, influência e mesmo de perder o emprego.

Se o mercado e os potenciais clientes deixarem de ter poder de compra, ou se o produto estiver em fim de ciclo de vida e deixar de ser procurado em detrimento de outros mais novos, teremos uma quebra de procura e consequentemente a produção de tais produtos terá de cessar, implicando ou o encerramento da unidade fabril ou simplesmente a produção de um novo produto.

Voltamos de novo ao nosso problema inicial de competitividade.

Unidades modernas, com altos índices de produtividade, meios técnicos e humanos de elevada qualidade, forças produtivas das mais rentáveis, laborando em produção contínua e sem falhas, têm de parar para evitar o despedimento dos seus operários ou estes devem aceitar perdas de regalias em termos salariais, i.e. reduções drásticas nos custos fixos de produção impostas pelo patronato, para prolongarem o suplício por mais algum tempo, adiarem o inevitável encerramento.

Então e a competitividade, a unidade industrial é novinha em folha, moderna, automatizada e tudo, onde é que falha?

A resposta só pode ser uma e é:
a estratégia da empresa deixou de ser a de produzir esse produto específico.


O ciclo de vida dessa estrutura ficou concluído e os objectivos propostos desde o início da actividade foram atingidos.
A empresa já tem outros projectos em curso noutro lado e portanto essa estrutura deixou de ser um objectivo e a partir do momento em que começa a dar prejuízo é pura e simplesmente encerrada.
Os sindicatos deitam as mãos à cabeça, organizam manifestações de rua, bloqueiam os administradores, manifestam-se frente aos ministérios, fazem petições ao Presidente da Republica, entre outros devaneios.
O velho papão capitalista etc. etc.

Creio que neste país ainda estamos habituados a pensar em termos de emprego para vida inteira.
Basta entrar para o quadro da empresa e podemos estar sossegados e esperar tranquilamente pela reforma!


A velha problemática da mudança.

Novos desafios.
Estar à altura desses desafios significa formação, formação, aquisição de novas competências, flexibilidade e capacidade de adaptação.

Este conformismo, ligado ao determinismo negativista das nossas gentes que ainda se encontram acorrentados ao Velho do Restelo, está muitas vezes associado ao nosso medo e desconfianças inatos.
Mudança, só se for para pior!

As empresas vão à falência a culpa é dos patrões, agora cabe ao estado subsidiar e servir de muleta. Se não é este o culpado é certamente culpa do estado, do ministro etc.

As coisas vistas do outro lado implicam:
• visão estratégica,
• conhecimento profundo dos mercados e os seus mecanismos e necessidades,
• planos de marketing e comercias aguerridos.
• planos industriais e comercias bem planeados e executados.
• recursos financeiros e humanos,
• meios de produção, com a realização de produtos de qualidade e baixo custo,
• gestão e organização à altura do projecto,
• lucros, criação de riqueza.

Uma vez atingidos os objectivos, procuram-se novos produtos, novos mercados, criam-se novas estruturas e por aí adiante.
As estruturas em fim de vida são simplesmente abandonadas. Por vezes recorrem-se a “reestruturações”, tudo o que deixa de produzir lucros é eliminado, uma vez que o fim último para o qual foi criada uma empresa é simplesmente produzir mais-valias.

Competitividade a quanto obrigas!

Neste país onde vivemos num contexto em que:
• por norma a criatividade praticamente não existe,
• as start-up dificilmente vêem a luz do dia,
• onde os apoios à criação de novas empresas está congelado (já esteve mais morno), onde a investigação não investiga, por falta de verbas,
• onde os projectos de maior importância são atribuídos a investigadores, engenheiros, arquitectos e mesmo empresa estrangeiras, veja-se Lisboa,
• onde o mérito não é reconhecido,
• onde impera o favoritismo e as cunhas desgarradas a todos os níveis,
• a corrupção e fuga aos impostos é o pão-nosso de cada dia,


a competitividade só pode depender dos compadres!

Tenho dito.

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