terça-feira, outubro 26, 2010

Concerto

CONCERTO

Uma vez acordados os violinos vai haver concerto!
Concerto de cortes.
Imorais.
Anti-sociais.
Demolidores.
Um concerto regido pelo maestro que durante os últimos anos nos vem servindo uma cacofonia de desacordes anacrónicos e dissonantes de todas as outras orquestras europeias.
A divergência é o leitmotiv dominante.
Divergimos de tudo e de todos.
As nuvens acumulam-se no nosso dia-a-dia.
Anunciam tempestades e tormentas.
Os ciclos repetem-se e mais uma vez a seguir a uma grande borrasca vem a bonança.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Nails, poetry and pets


Vermelho sangue com reflexos dourados

Assim exclama o poeta António Nobre (Só):









Para As Raparigas de Coimbra

1

Ó choupo magro e velhinho,
Corcundinha, todo aos nós:
És tal qual meu avôzinho,
Falta-te apenas a voz.

2

Minha capa vos acoite
Que é p'ra vos agazalhar:
Se por fóra é cor da noite,
Por dentro é cor do luar...

3

Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobraes, quem morreu?
Ah, foi-se a mais linda cara
Que houve debaixo do céu!

4

A sereia é muito arisca,
Pescador, que estás ao sol:
Não cae, tolinho, a essa isca...
Só pondo uma flor no anzol!

5

A lua é a hostia branquinha,
Onde está Nosso Senhor:
É d'uma certa farinha
Que não apanha bolor!

6

Vou a encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei!
Mondego, qu'é da tua agoa?
Qu'é dos prantos que eu chorei?

7

A cabra da velha Torre,
Meu amor, chama por mim:
Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.

8

- E só porque o mundo zomba
Que poes luto? Importa lá!
Antes te vistas de pomba...
- Pombas pretas tambem ha!

9

Therezinhas! Ursulinas!
Tardes de novena, adeus!
Os corações ás batinas
Que diriam? sabe-o Deus...

10

Teu coração é uma igreja:
N'uma eça dorme, alli,
Manoel, bemdito seja,
Que morreu d'amor por ti.

11

Manoel no Pio repoiza:
Todos os dias, lá vou
Ver se quer alguma coiza,
Perguntar como passou.

12

Agora, são tudo amores
A roda de mim, no Caes,
E, mal se apanham doutores,
Partem e não voltam mais...

13

Aos olhos da minha fronte
Vinde os cantaros encher:
Não ha, assim, segunda fonte
Com duas bicas a correr!

14

Nossa Senhora faz meia
Com linha feita de luz:
O novello é a lua-cheia,
As meias são p'ra Jezus.

15

Meu violão é um cortiço,
Tem por abelhas os sons
Que fabricam, valha-me isso,
Fadinhos de mel, tão bons...

16

Ó fogueiras, ó cantigas,
Saudades! recordações!
Bailae, bailae, raparigas!
Batei, batei, corações!


O meu pet batendo uma siesta!

segunda-feira, outubro 04, 2010

Aniversário



Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Camões

quinta-feira, setembro 30, 2010

O Outono do estado social

Temos assistido a mais alguns episódios da saga governo – oposição num cenário de catástrofe económica.
Os agentes económicos internacionais e as agências de rating fazem cada vez mais pressão sobre Portugal. Os juros da divida externa aumentam a cada dia que passa.
Que fazer? Todos ouvimos as receitas para obter esse milagre enunciado por ilustres economistas (os mesmos que nos levaram a esta situação).
Equilibrar as contas, i.é., fazer com que as despesas sejam pelo menos iguais ou inferiores às receitas. Mais fácil de dizer do que de fazer!
Senão vejamos:
·        A máquina do estado é o maior empregador do país.
·        O crescimento económico ronda os 1%.
Algumas das receitas numa empresa são reduzir os encargos fixos, custos com o pessoal, despedindo, racionalizando a produção, reduzindo os custos de produção e aumentando as vendas, eliminando os produtos que não são rentáveis, deslocalizando as empresas para lugares onde se paguem menos impostos e onde a mão-de-obra seja mais barata, entre outros.
As empresas podem-se dar a este luxo, pois têm o estado social que vai cuidar das pessoas desempregadas com os subsídios de desemprego, assistência social, etc.
O que se faz nas empresas privadas já não se pode aplicar ao estado, porque não há mais nada para além do estado.
Bem, existir existe, existe o caos e lembro-me das vinhas da ira.
Solução proposta pelo governo de José Sócrates:
·        Cortes salariais da função pública
·        Suspensão de despesas (ex. suspensão de aquisições de veículos de luxo, etc.)
·        Congelamento de investimento até ao fim do ano 2010 (curiosamente não se tocou no TGV, travessia do Tejo, aeroporto)
·        Aumento de impostos
·        Redução das prestações sociais
Estamos a seguir o mesmo caminho dos nossos parceiros europeus que se encontram na mesma situação económica como por exemplo a nossa vizinha Espanha, a Grécia, a Irlanda.
Os cortes nos salários são um exemplo disso mesmo.
Tudo o resto era previsível e mesmo de esperar, basta estar atento ao que se passa à nossa volta.
O que não era de esperar era o aumento dos impostos.
O desmantelamento do estado social vai originar precaridade, aumento de instabilidade social, manifestações de rua, greves e muitos conflitos em todos os sectores da nossa sociedade.
Só não consigo suportar a ideia do político mentiroso. Durante todo este tempo disseram-nos que os impostos não iam aumentar e que não se estava a desmantelar o estado social!
Agora foi simplesmente anunciado em directo pela TV.
Começou o Outono do estado social.

domingo, setembro 19, 2010

Ausência



Estive ausente deste meu espaço de reflexão.
Remeti-me ao árduo trabalho de levar a bom porto a Thermogen, empresa que criei já lá vão uns anos.

Vou estar de volta.

Mais pensamentos e reflexões do dia de todos os dias.

Fico sempre encantado com a luminosidade da minha cidade.